O que há entre três taças de vinho

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3 TAÇAS DEPOIS / Marcos Alberti

“A primeira taça é da comida, a segunda é do amor e a terceira é da confusão”. Foi com essa premissa que o fotógrafo Marcos Alberti juntou os amigos para o projeto “3 TAÇAS DEPOIS”.

Com bom humor, o paulista juntou os amigos para algumas taças de vinhos, muitas histórias e, claro, registrar o antes e o depois disso tudo.

“Eu sempre vi coisas negativas sobre a bebida e sempre achei que toda história tem dois lados”, explica. “Quis mostrar que beber com moderação pode resultar em coisas muito bacanas, e isso é algo que as pessoas não falam muito. Quando você bebe, abre mais suas particularidades. Até o sorriso fica mais fácil”.

A primeira foto, esclarece, era feita no momento em que os convidados chegavam ao estúdio. “Todos são meus amigos. Eles chegavam por volta das 20 horas com aquela carga de um dia cheio de trabalho, eu não deixava nem eles se ambientarem e já fazia a primeira foto”. Os próximos três cliques surgiam ao final de cada taça.

O ensaio foi realizado com grupos de nove pessoas, em seis noites distribuídas em um mês. Foram fotografadas 54 pessoas.

O paulista de 28 anos é formado em fotografia pela Escola Panamericana de Artes, em São Paulo, e cinema, em Nova York, nos Estados Unidos. O projeto entrou no ar no último dia 7 de abril e já ganhou destaque em países como Inglaterra, Alemanha, Espanha, Itália e até na Índia.

“Eu trabalho muito com publicidade. No meu dia a dia é difícil ter liberdade. Nos meus projetos pessoais é diferente. Gosto muito de fotografar mulheres, já fiz fotos com nudez. Dessa vez trouxe a bebida de forma positiva”.

Veja o ensaio completo no site do fotógrafo.

O olhar sobre o deserto

Caminho das abelhas 1 - Iana Soares
Iana Soares / Caminho das Abelhas

Uma experiência coletiva. É assim que os fotógrafos que assinam a exposição Caminho das Abelhas a definem. “A exposição se torna mais forte, mais simples, porque ela mostra a diversidade do olhar indiferentemente de como o sertão se apresenta pra cada um dos fotógrafos“, explica o piauiense Sérgio Carvalho.

Sertão esse que recebeu, além de Sérgio, os fotógrafos Iana Soares (CE), Markos Montenegro (CE), Paulo Gutemberg (PI), Silas de Paula (RJ) e Vanessa Andion (BA), e agora resulta na mostra que narra, por meio de 48 imagens, o processo de desertificação de Irauçuba, a 168 km de Fortaleza. O caminho que aponta e grita para o deserto fica em cartaz no Espaço Cultural Correios Fortaleza (ECC) até o dia 19 de março.

Sérgio esclarece que, em sua própria subjetividade, o semi deserto transcende a fotografia. Criado em Simplício Mendes, município do interior do Piauí, ele lembra que a paisagem traz muito da memória afetiva. “E existem três coisas que permanecem independente do sertão que você esteja: o tempo, o silêncio e a solidão“.

Para Vanessa Andion, a percepção foi diferente. Após o impacto de “mergulhar pela primeira vez” na paisagem, ela acredita que está diante de uma oportunidade de sensibilizar a sociedade e o poder público sobre o que acontece na vizinhança. O debate, aliás, era sugerido no subtítulo anteriormente usado para a exposição – o deserto é logo ali. “Foi um olhar de espanto“.

Caminho das abelhas 2 - Sérgio Carvalho
Sérgio Carvalho / Caminho das Abelhas

Para compreender as discussões que permeiam a trajetória dos seis fotógrafos, o Repórter Entre Linhas conversou também com Iana Soares. Editora de fotografia do jornal O POVO, é graduada em Ciências Sociais (Uece), Jornalismo (UFC) e mestre em Belas Artes pela Universidade de Barcelona. Em 2015 levou para casa o Prêmio BNB de Jornalismo na categoria fotografia nacional com especial “Sertão a Ferro e Fogo – Marcas de gado e gente”.

Por que é necessário contar essa história?

Iana Soares: (Pausa). Eu acho que quando a gente escolhe… Em termos social e histórico, Irauçuba é um município cearense que está passando por um grave processo de desertificação. Alguns companheiros que estão na exposição comigo já faziam essa viagem entre o Ceará e o Piauí, ou outros destinos, e tinham um certo interesse pelo lugar que é uma paisagem muito interessante. Digamos que essa era a primeira a ideia. A primeira desculpa que a gente tinha pra ir lá era a desertificação. E aí quando a gente começa a empreender uma série de viagens, vem o contato com as pessoas, a relação das pessoas com o próprio lugar que elas moraram a vida inteira – elas nasceram e se criaram ali. Então acho que com essa narrativa a gente dá visibilidade ao lugar, às pessoas e, de certa forma, Irauçuba ajuda a entender o sertão cearense, o sertão nordestino. Ajuda a entender um pouco essa relação que a gente tem com o processo de desertificação, relação com o meio ambiente, e que a urgência de contar essa história é pela parte social e também pela parte afetiva de narrar esses encontros que a gente teve nesse lugar.

Tem muito da memória afetiva nesse trabalho?

Iana: Olha, meus pais são de Mombaça (a 296,1 km de Fortaleza), mas eu sempre fui mais de litoral do que de sertão. O sertão vem pra mim muito forte quando eu começo a trabalhar com MST lá atrás – durante um tempo trabalhei com o MST em Canindé, com Educação de Jovens e Adultos. Durante dois anos eu ia muito a Canindé que também é uma área que passa por problemas de seca. É uma área muito forte do nosso semiárido. Tive essa vivência com as pessoas do sertão, então acho que o sertão é fundamental pra gente se entender como cearense e como brasileiro também. É uma paisagem muito forte do nosso território. Tem uma memória afetiva, mas tem também uma ideia de que mesmo não estando lá a vida inteira, aquilo faz parte de mim. O Sérgio nasceu no sertão do Piauí, em Simplício Mendes, mas mesmo quem não nasceu ali tem o sertão como algo muito próximo, iminente e constante no nosso imaginário visual. Aqui no jornal (O POVO), onde estou desde 2009, já fotografei muito sertão, então é uma paisagem constante. É um lugar que a gente sempre vai também para se entender um pouco mais.

O Sérgio comentou que, independente do lugar, o sertão não muda. Qual o impacto disso na fotografia?

vanessa andion - caminho das abelhas 2
Vanessa Andion / Caminho das Abelhas

Iana: Acho que existe uma visualidade do sertão muito forte. Se você fala para um brasileiro que nunca foi ao sertão, talvez ele vai imaginar um chão rachado, certo estereótipo nordestino. É importante a gente transitar entre isso, que já está muito estabelecido, mas também tentar ver nuances além da superfície. É muito árido, mas é uma explosão de cor também. Acho que pelo fato de sermos seis também traz essa ideia de que são múltiplos olhares. Somos seis fotógrafos contando a sua história do sertão.

O fazer jornalístico é muito solitário e vocês tiveram uma experiência coletiva.

Iana: Esse trabalho também é uma celebração da amizade, do encontro. Nós temos interesses em comum e gostamos de estar juntos. Na fotografia é assim, na hora do clique você parece estar muito sozinho, mas o ato de viajar, a discussão depois das fotografias, a montagem da exposição… existe uma interferência, um diálogo muito forte. Por mais solitário que a gente ache o momento da escrita, o momento do clique, muita coisa veio antes e muita coisa vai vir depois. Além dessa troca entre nós participantes, tem a intervenção das pessoas da comunidade. Houve uma oficina de fotografia durante o projeto. Houve muita troca com pessoas de lá, tanto as que foram fotografadas como as que estão ligadas com projetos culturais de Irauçuba. Como agora o público que vai ver. Talvez o fato de ter seis pessoas assinando essa exposição torne evidente que a fotografia também é um ato coletivo por mais solitário que possa parecer.

As pessoas estão saindo do interior. Qual foi o impacto dessa percepção?

Iana: Acho que é algo muito complexo e sem resposta porque eu não posso julgar, sendo eu de fora, se as pessoas devem ficar lá ou não. O que eu acho é que é necessário sim uma série de políticas públicas porque a seca não acontece por acaso. Nós temos esse fenômeno que ele sempre vai acontecer ao longo dos anos e ele vai sim se agravar e depois vai poder ser mais ameno, mas ela sempre vai existir. A seca não é castigo de Deus. A gente escuta muito a história da “indústria da seca”, o quanto tem gente que vai lucrar com isso. Acho que muito mais do que dizer que as pessoas estão indo embora do sertão, a gente tem que se perguntar por que isso acontece e quais são as políticas públicas necessárias para fazer um trabalho de educação ambiental, de uso da terra, de que forma a agricultura pode ser mais sustentável, e da própria existência da água. A gente tem um solo cada vez mais árido. Por mais que a exposição seja poética, que seja uma coisa artística e a gente busque uma narrativa muito mais da imaginação, ela também alerta para a efetivação de uma série de políticas públicas que não são favor, não é concessão, é direito dessas pessoas que estão lá. É fundamental pensar nisso.

Qual a importância de deixar isso registrado? Porque a exposição existe, mas ela circula e o livro fica e tem um documentário.

Iana: A exposição é uma celebração do projeto inteiro. O livro é o lugar da fotografia também. Esse lugar que você pode voltar mais de uma vez, fazer com que circule e esse suporte físico é interessante. Tem também página no Facebook, perfil no Instagram, outras plataformas que vão possibilitar acesso a públicos diferentes. E acho que mais do que algo definitivo é também um convite para as pessoas olharem para o sertão, olharem para o Ceará e olharem para o que elas mesmas estão fotografando. Existe um interesse muito grande por fotografia mas as pessoas estão muito mais fazendo foto do que olhando para o que elas estão fazendo. A exposição é um convite para olhar o que se fotografa, perceber de que forma a gente conta uma história. De que forma estamos construindo uma narrativa que não é só um clique, não é só um celular cheio de fotografias dentro. A fotografia é tão importante no sentido de deixar para o tempo aquela memória que a gente precisa ter um carinho, um cuidado com o que a gente está fotografando. É importante dentro desse “boom” de imagens, dessa overdose, você ter exposição, livros e outros meios que colaborem com essa cultura visual, com a formação de um público que olha e repara.

Serviço

Exposição: Caminho das Abelhas
Onde: Espaço Cultural Correios Fortaleza (ECC – rua Senador Alencar, 38. Centro – Fortaleza)
Abertura: 20 de janeiro, às 16 horas.
Visitação: a partir de 21 de janeiro até 19 de março, das 8 às 17 horas (de segunda a sexta-feira) e das 8 às 12 horas (aos sábados).
Entrada gratuita.

Livro do fotógrafo André Salgado ganha campanha de financiamento coletivo

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Arquivo pessoal

Familiares e amigos do fotógrafo André Salgado, que morreu em maio de 2013, criaram uma campanha na internet para financiar a publicação de um livro com imagens registradas pelo fotógrafo do Jornal O POVO. Para publicar ‘O Livro do André’, a meta é arrecadar R$ 16 mil até o dia 31 de dezembro de 2015. Serão produzidos 500 exemplares.

Para viabilizar o projeto, a quadrinista e prima de André, Ana Lúcia Medeiros, criou a campanha na plataforma de financiamento coletivo Catarse. Os valores da contribuição vão de R$ 20 a R$ 300. Além do exemplar, que pode ser digital ou físico, as recompensas variam de nome do apoiador nos agradecimentos a bottons, adesivos, postais e fotos em tamanho 15×21. A estimativa de entrega é em fevereiro de 2016.

Para Ana Lúcia, o livro “é uma forma de homenagar André, matar a saudade”. “Eu sempre admirei o trabalho dele e quero mostrar isso para as pessoas. É um projeto difícil porque fazer um livro de fotografias é caro”, disse no vídeo de apresentação do projeto.

A seleção inicial, com cerca de 460 fotos, foi feita pelo jornalista e amigo Bruno de Castro. Dessas, 400 fotografias foram cedidas pelo O POVO. A fotógrafa e jornalista Iana Soares e o jornalista Gil Dicelli, ambos do Jornal O POVO, são responsáveis pela curadoria das imagens. Eles também assinarão o projeto gráfico.

“O livro não tem apelo comercial. É só pra gente ter uma memória física pertinho. Para quando bater a saudade a gente correr ali e ter uma memória dele, um sorriso”, afirmou Bruno de Castro. O jornalista disse ainda que o projeto não tem patrocínio. “O único apoio (antes da campanha) foi do Jornal que liberou as fotos, mas no geral o projeto é independente”.

“André foi um fotógrafo de um olhar muito sensível”, continuou. “Por mais que a pauta fosse difícil ou burocrática, ele sempre buscava enxergar as coisas com um olhar poético. Partimos desse pressuposto para selecionar as imagens”.

Saiba mais

André Salgado morreu no dia 26 de maio de 2013, ao cair do 21º andar do Condomínio Jardins do Alto, localizado na zona Leste de Natal, no Rio Grande do Norte.

Saiba mais sobre a campanha O Livro do André aqui.

Assista o vídeo de divulgação da campanha: